Andei pelo quarto, esbarrei algumas vezes no vingativo pé da cama. Sentei-me, levantei-me e chorei sem parar. Procurei no espaço alguma porta para sair, mas eu só via a janela, a janela do sexto andar e eu não estava animado para suicídio aquele dia. Rotina.
Não sei como entrei ali, mas sabia que me odiavam, porque só se prende assim a quem se odeia.
Tinha a impressão que nasci ali dentro mesmo. Que depois de me parir, mamãe saiu a se aventurar pelas vias breves e sonoras do ar, e nunca mais voltou.
Depois de limpar os olhos, observava minhas pupilas, tão verdes, como pitangas novas no pé, e eu era homem maduro, parado de frente de si.
A solidão e o tempo atemporal me permitiam coisas descabidas. Nesse dia tive a idéia mais real de minha vida: colocaria um espelho em frente a outro. Coloquei. Refletiram-se, eternamente, inevitavelmente. Cuidei para que não quebrassem com o movimento, e pronto, estavam em posição, encarando-se.
Tentei em algum momento enxergar o fim, mas era infinito o reflexo. Começava e terminava-se em si mesmo, e ao mesmo tempo era dependente do outro, no outro. Refletiam-se descontroladamente, paulatinamente, mas refletiam a nada. Foi aí que caminhei alguns instantes na direção daquela imagem e pude ver as pitangueiras no parque. Que lindo lugar, ar puro, verde. Mamãe me pegou pela mão andamos até o lago. Eu respirava fundo, lambia uma lágrima e amava.