Reparei, e não faz muito tempo, que existe certo tipo de vontade geral de não ser. Ou pode-se dizer de uma vontade de ser ninguém. Absolutamente, todos nós tentamos afirmar nossas personalidades complexas e únicas, que são baseadas nas vivências múltiplas de nossas histórias de vida, e sobre estas, os anseios se argumentam nas frustrações e perdas muito mais que em qualquer alegria. Há uma melancolia generalizada, mesmo que disfarçada na maioria das personas.
Eu, Diego, penso então que essas farpas que me disparam, com o tambor dos olhares, dos dedos, e sobre tudo, da boca são ligeiros flashes de alguma vontade velada. Corrompidas lascas transgressoras da vida morta. Inseminação artificial da vida em quem não é morto, mas morre. (E como morre! Morre muito, morre ulteriormente, superficialmente, neuronicamente, capilarmente, morre tudo muito!). É claro que a primeira reação que tenho é a raiva, mas tão logo ela desaparece, porque eu me questiono que também sigo o fluxo geral como qualquer um, e só não digo que sou como qualquer ser humano porque isso seria um pecado original. Sou diferente, único, e ninguém pode me conhecer de verdade. Nem eu mesmo. (Ó mundo, vasto mundo)
Mas certas músicas parecem tocar para minha dança. E na dança dessa gente como eu, reafirmo, o passo é marcado em compassos enclíticos. Um, dois, um dois, um, um, um. Nas razões verdadeiras – porque razão é razão – da nossa jovialidade tão bonitinha, tão festejadinha, tão macaquinha, preferimos nos defrontar com a carne do conhecimento de Proust e de Verlaine, de Shakespeare e de Homero, de cada mãe e pai, mas nunca de seu – meu – cérebro. A sorte é que sentimos mesmo com o cérebro e o coração não passa de uma bomba.
Pois que identificado, para mim apenas, já que minha idéia não vale nada – se afirmasse que vale muito, destruí-la-ia – que há algum vapor barato no ar, difundindo a loucura comprada ou baixada em arquivos compactados, resta-me arrumar um balão de oxigênio, e sair por aí dando a noticia que há uma epidemia. Que a peste veio para nos fazer pagar pelos muitos pecados cometidos. Mas prefiro ficar doente, afinal, se são ficasse, me chamariam de louco narcisista, e eu tenho medo de não ficar louco.
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
domingo, 12 de outubro de 2008
Soneto do homem
Primeiro veio à luz dos dentes meus
a palavra que cria esse estribilho.
E pela cruz certeira dos ateus:
a fé que me conduz ao cru martírio
nascido da boca em pus de algum deus
que ensinou bem o mal a mim, o filho,
feitor de fabricados Pirineus
enterrados feito sangue sem brilho.
Sob ela, inevitável humanidade,
resta-me aceitar o fardo que é a dor
de sentir que perfeição e divindade
são quereres que nutrem um tumor.
Mas quase me esqueço na insanidade,
que do homem, por sê-lo, concebo o amor.
a palavra que cria esse estribilho.
E pela cruz certeira dos ateus:
a fé que me conduz ao cru martírio
nascido da boca em pus de algum deus
que ensinou bem o mal a mim, o filho,
feitor de fabricados Pirineus
enterrados feito sangue sem brilho.
Sob ela, inevitável humanidade,
resta-me aceitar o fardo que é a dor
de sentir que perfeição e divindade
são quereres que nutrem um tumor.
Mas quase me esqueço na insanidade,
que do homem, por sê-lo, concebo o amor.
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