sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Ontem

Não vou dizer do imutável porque isso é burrice. Nem lamentar sua imutabilidade, porque isso é pequenez. Advirto que o tempo é cheio de pormenores que se escondem entre os segundos, e aí é que estão guardados os meus tesouros.
Confesso que gostaria de ter mais ódio, porque ele seria a maneira mais certa de manter a consciência e a identidade que sempre me fogem. O oposto é terrivelmente estático, mas não creio que imutável, porque eu não sou burro.
Esses dias me apresentei ao espelho. Eu conheço e reconheço muitas vezes meu torpe olho esquerdo. É o lado esquerdo esse maldito hemisfério quente que de tanto afago faz delirar.
Essa febre está me dando calafrios, sinto, no meio do calor desse trópico, um frio cru. Preciso matar um leão, arrancar-lhe a pele e me aquecer.

Um comentário:

Bianca disse...

Você podia escrever mais...falo sério, é tão bom ler textos masculinos Lispectoranos, um tom a mais na mesma melodia, nada dissonante do resto.
Eu não sei bem, mas às vezes é bom se ler por palavras de quem não nos conhece, uma coincidência esquisita parecida com a primeira vez que eu li Clarice...é algo como "olha só, e isso já foi escrito, então.."